terça-feira, 21 de abril de 2009

Autobiografia de S.M.I. - Capítulo 3

Minha vida e o progresso da Etiópia - A autobiografia de Haile Selassie I
Capítulo 3 – Da morte de S.A. meu pai até minha nomeação como governador de Harar (1906-1910)

Não há ninguém que diga que todos os seus dias foram só de alegria ou só de tristeza, a alegria e a tristeza ocorrem alternadamente, cada um em seu turno; todos os meus pensamentos estavam flutuando em um mar de sofrimento quando o meu pai, que me amava muito carinhosamente e era tão afeiçoado a mim, ficou gravemente doente.

Ras Makonnen

Ras Makonnen

S.A. meu pai, saiu de sua cidade Harar para ir a Addis Ababa no dia 12 de janeiro de 1906 (= 4 de Ter de 1898). Neste dia ele já não se sentia muito bem. No dia 17 de janeiro ele acampou as margens do rio Burga, depois de ter gasto o dia celebrando uma festa chamada Temgat, ele retornou, pois a doença o debilitou, e foi para sua segunda cidade chamada Qullebi (Collubi) onde começou a ser tratado por um médico. Nesse período, meu pai me citou seu desejo em me ver, fui até Qullebi. Quando entrei em seu quarto para ver seu estado e ele me viu em pé ao seu lado, ele me pediu com um olhar para que eu me sentasse, pois era difícil para ele falar devido a gravidade da doença. Como Eu estava convencido que era da vontade dele que Eu não saísse dali, fiquei o dia inteiro sentado ao seu lado.

Mas a hora do julgamento da morte decidido pelo poder de Deus não pode ser adiada, nem pelo amor de muitos – nem pelo amor de pai e filho. Assim, ele faleceu em Qullebi no dia 21 de março de 1906 (= 13 de Magabit de 1898 ) e foi enterrado na igreja de St. Michael que ele mesmo fundou, em Harar.

Depois disso, os agentes de meu pai e as tropas se reuniram por completo. Como, por um lado, o meu pai tinha dito a eles enquanto estava vivo “eu vos confio o meu filho Tafari” e, que por outro lado, eles estavam conscientes da lealdade de meu pai ao Imperador Menelik e seus serviços diligentes para seu governo, que expressaram a esperança de que ele (o Imperador) não iria deixar de dar a ele (Tafari) o governo de seu pai em Hararge. Após terem concluído suas consultas dizendo “devemos ir para Addis Ababa seguindo o serviço memorial (tazkar) habitual após 40 dias”, chegou uma carta dos oficiais do Imperador Menelik afirmando: “Venham de uma vez com Tafari, seu filho, pois é diante de mim, em Addis Ababa, que as lamentações pelo do luto de 40 dias de Ras Makonnen serão realizadas”.

Enquanto meu pai ainda estava vivo ele preparou um presente que deveria ser entregue ao Imperador Menelik; e como era um objeto que ele tinha separado, levamos conosco quando partimos de Harar no dia 10 de abril (=3 de Miyazya) e seguimos nossa viajem para Addis Ababa. Como muitos dos que estavam conosco morreram durante o percurso, a dor era amontoada na tristeza. O motivo foi um “pequeno” período chuvoso, e devido a multidão do exército, a malária se espalhou em nosso campo. Em 26 de abril (=19 de Miyazya) chegamos a Addis Ababa.

O Imperador Menelik deu ordens para que as tendas fossem costuradas juntas, como um hangar, num vasto campo, no qual, ele realizou um banquete memorial para meu pai; e lá ele fez com que os oficiais e as tropas se reunissem. Enquanto as lamentações precediam, com os visitantes de um lado e os anfitriões do outro, estávamos reunidos com o Imperador Menelik em um grande luto.

No quadragésimo dia, 30de abril de 1906 (= 22 de Miyazya), os sacerdotes dos monastérios e igrejas em Addis Ababa e suas redondezas, após terem terminado a oração da absolvição própria para cristãos, prosseguiram todos à uma tenda que havia sido preparada e passaram o dia em um grande banquete feito para eles. Os Rases e Dejazmatches, como alguns tinham relação sanguínea e outros cresceram com ele, entraram em um lugar reservado para eles na tenda, permaneceram lá, e observavam para que nenhum item do banquete faltasse. Para os pobres, foi dado, além de comida, muitos donativos em dinheiro.

Menelik II

Menelik II

No dia seguinte, conforme o costume de nosso país, no quadragésimo dia após a morte de alguém, as lamentações ocorrem como se fosse o próprio dia da morte. No grande campo, onde as tendas foram erguidas, os oficiais e as tropas se reuniram. O próprio Imperador Menelik estava sentado no centro, e então a mais incrível demonstração de luto foi feita para meu pai quando suas vestes cerimoniais, sua coroa de Ras, suas medalhas e suas armas de batalha foram carregadas, e seu cavalo e mulas, selados em chicotes dourados, desfilaram no meio do exército. Um dos enlutados disse em sua homenagem a seguinte frase:

“O telefonista, quando anunciou sua morte, estava errado; Não foi Makonnen que morreu e sim os pobres.”

No Palácio de Addis Ababa era dito que ninguém presenciou uma ocasião de similar lamentação e luto para alguém. Depois que as demonstrações dessas lamentações encerraram-se, os informaram o exército que eles deveriam ir para casa; então eles partiram e seguiram seus caminhos. Mas a tropa de meu pai, que veio comigo de Harar, permaneceu ali quietamente; e quando foram perguntados: “Por que vocês ficaram se todo o exército já partiu?” eles responderam: “É para escoltar até seu acampamento o filho de nosso mestre, Dejazmatch Tafari.” Quando o Imperador ouviu isso, ele me permitiu ir ao acampamento com a tropa de meu pai. Quando saímos, os amigos de meu pai de Addis Ababa se juntaram e me acompanharam; todos que cruzavam nosso caminho pararam e expressaram admiração pelo extraordinário tamanho da escolta. Graças a esse acontecimento, outros amigos de meu pai que estavam vivendo em Addis Ababa – sem falar a tropa de meu pai – disseram-me que eles ouviram pessoas comentando entre si “o fato do Imperador estar permitindo que Dejazmatch Tafari volte com a tropa de seu pai deve ser porque Menelik está pensando em dar a ele o governo de Harar.”

Mas meu irmão mais velho, Dejazmatch Yelma (que nasceu antes de meu pai ter se casado com minha mãe, Wayzaro Yashimabet) , se casou com Wayzaro Assallafatch, a filha da irmã da Imperatriz Taitu.

Por essa razão, a Imperatriz Taitu costumava ajudar todos os seus parentes, era dito que ela queria que Dejazmatch Yelma ganhasse o governo de Harar, argumentando que, enquanto existe um filho mais velho, o filho mais novo não deve ser apontado ao governo de seu pai; devido a um atraso no anúncio, muitas pessoas se alegraram indicando que o governo de Harar deveria ser meu.

Imperatriz Taitu e Imperador Menelik II

Imperatriz Taitu e Imperador Menelik II

Mas desde que, a Imperatriz Taitu incomodou o Imperador Menelik dizendo “Dê para Dejazmatch Yelma por minha causa”, e porque, e não era ainda o momento em que Deus havia determinado para Eu me tornar governador de Harar, a questão foi decidida dizendo: “vai para Dejazmatch Yelma”. A razão pela qual as tropas de meu pai e seus amigos achavam que o governo deveria ser meu era que eles eram acostumados a mim, estando constantemente em minha companhia, e porque meu pai, quando ainda era vivo, tinha dito a eles “Eu confio a vocês meu filho Tafari.”

Depois que a decisão de dar o governo de Harar para meu irmão Dejazmatch Yelma foi tomada, pareceram pensar que Eu e o exército não gostaríamos se a proclamação fosse feita enquanto Eu estivesse entre a tropa de meu pai; Eu fui chamado do campo uns oito dias antes da data da proclamação e foi combinado que Eu deveria permanecer em uma tenda preparada para mim nos arredores do Palácio. Então eles requisitaram alguns dos mais leais oficiais de meu pai que demonstravam carinho e afeição a mim, Dejazmatch Abba Tabor e Fitawrari (agora Dejazmatch) Hayla Sellasse Abaynah, para ficar aqui em Addis Ababa como suplicantes, tratando-os por um tempo com (real) desgosto e detenção. A razão era que Sejazmatch Abba Tabor e Fitawrari Hayla Sellasse tinham firmemente afirmado que o governo de Harar seria meu, e surgiram boatos que o aviso foi dado por parte da Imperatriz Taitu que, se eles tivessem voltado a Harar, eles poderiam em cada chance tornar as coisas mais difíceis para Dejazmatch Yelma.

Oito dias depois, em 9 de maio de 1906 (= 2 de Genbot), a proclamação do Imperador foi emitida, para confirmar que ele deu Harar, governo de Ras Makonnen, para Dejazmatch Yelma, e Sellale, o governo de Ras Darge, para Dejazmatch Tafari. Como consequência, o exercito inteiro de meu pai estava aflito. Entre eles tinham muitos que vieram permanecer comigo deixando suas casas, dizendo: “Não devemos ficar com Dejazmatch Yelma e abandonar Dejazmatch Tafari, filho de nosso mestre Ras Makonnen, que ele confiou a nós.” Dentre estes, os que me lembro eram Fitawrari Qolatch, Ledj (mais tarde Dejazmatch) Walda Sellasse, Ato Dannaqa Gobaze, Ledj Alamayahu Goshu (posteriormente Fitawrari), Qagnazmatch Walda Maryam Abaynah, Ato Sabsebe (mais tarde Bajerond), Ato Hayle Walda Rufa’el’ (posteriormente Tsahafe Te’ezaz), Qagnazmatch Defabat-chaw, Ato Tafarra Balaw, Qagnazmatch Gabra Wald, Ato Waqe (lmais tarde Dejazmatch), Qagnazmatch Darbe.

Durante o período que Eu servi como governador de Sallale, ordens foram dadas para reconstruir a igreja do monastério de Dabra Libanos que tinha virado ruínas. Daí, quando as fundações eram escavadas, foi encontrado um anel e um pedaço de ouro que possuía uma inscrição Meu representante, que estava cuidando do trabalho por lá, me enviou e isso chegou ao Imperador através de mim; foi considerado uma grande sorte pra mim. Então, de acordo com os costumes de nosso país, para o governo de Sellale, o Imperador já me permitia ficar com meus retentores. Visto que eu não desejava me separar do Imperador, foi decidido que meu representante deveria residir no governo de Sallale, enquanto Eu ficava o dia inteiro no Palácio de Addis Ababa, das sete horas da manha até as oito da noite, oito meses inteiros comparecendo na Corte.

Naquela época o Imperador Menelik tinha aberto uma escola para jovens Etíopes estudarem línguas estrangeiras e tinha trazido professores do Egito. Enquanto estava escolhendo Ledj Iyasu, Ledj Berru, Ledj Getatchaw, e outros filhos de grandes nobres e os colocando na escola, ele me deixou de fora; e isso me causou grande tristeza. Mas quando Eu falei com ele, alguns dias depois, revelando meu desejo em estudar, ele me deu permissão e disse “Por você ser governador que Eu pensei que você gostaria de viver como os nobres, mas se você deseja estudar, então vá e aprenda.”; Então, comecei meus estudos. Mas, enquanto em Harar, Eu tinha aprendido francês; agora em Addis Ababa, visto que não era apropriado ter aulas junto com os iniciantes, eles começaram a nos ensinar separadamente, definindo algumas horas para nós sozinhos. Os que estudaram juntos foram Ledj (posteriormente Ras) Emru, Ato Assefaw Banti, and Ledj Zawde Gobana (mais tarde Fitawrari). Depois de permanecer por cerca de um ano designado para Sallale, Eu fui nomeado governador de Baso.

Meu irmão, Dejazmatch Yelma, depois de ter governado por cerca de dezessete meses seguindo sua nomeação para Hararge, morreu em Harar dia 10 de outubro de 1907 (= 29 de Maskaram de 1900); e quando o triste anúncio foi transmitido pelo telefone para Addis Ababa e nós recebemos a notícia, foi um grande luto. Depois, novamente, começou a ser dito pela boca de todos que o governo de Hararge era pra ser dado para Dejazmatch Tafari. Mas como eu disse antes, como a hora em que Deus me tornaria governador de Harar ainda não tinha chegado, no dia 4 de abril de 1908 (= 27 de Magabit 1900) o governo de Harar foi dado a Dejazmatch Baltcha, enquanto o Imperador meu deu parte do governo de Sidamo. Depois Eu tive que abandonar meus estudos e fui ordenado a seguir, junto com o exército, para meu governo em Sidamo e cuidar dos negócios do governo. Foi decidido que uns 3.000 homens do exército de meu pai em Harar deveriam vir até mim.

Quando minha ida para Sidamo estava decidida, foi concedido a mim que, que Dejazmatch Abba Tabor e Fitawrari Hayla Sellasse, que tinham ficado em detenção nominal, deveriam ir comigo. Como Dejazmatch Abba Tabor era atento em tudo que fazia e também firme em sua palavra e sincero sem qualquer falsidade, isso me foi grande sorte. Durante o período que Eu servi em meu governo em Sidamo, Eu tive um tempo de alegria perfeita, Eu não tinha problema nenhum, pois lá trabalhava para mim Dejazmatch Abba Tabor, sendo responsável pelo serviço externo, e minha avó (mãe de minha mãe) Wayzaro Wallata Giyorgis, sendo responsável pelo serviço interno. Enquanto Eu soube que era apropriado exercitar funções judiciais – um governador de província, de acordo com o costume local, sentaria na Corte – até então Eu não tinha ousado assumir essas funções de sentar em uma assembléia judicial, devido a minha idade. Mas agora, desde a minha nomeação para o governo de Sidamo, Eu comecei a pronunciar o julgamento enquanto sentava na Corte, nas quartas-feiras e sextas-feiras.

Enquanto eu dividi meus primeiros empregados, aqueles que vieram do exercito de meu pai, e os recém chegados que tinham vindo a mim depois que fui a Addis Ababa, em três partes fazendo ajustes próprios para cada de acordo com seus cargos e atribuindo seus deveres, Eu permaneci lá muito felizmente por cerca de um ano. Então, quando eu ouvi em 1908-9 (= 1901) que o Imperador estava gravemente doente, Eu pedi permissão para ir até Addis Ababa. Como a carta do Imperador chegou até mim me permitindo ir, Eu fui para Addis Ababa em abril de 1909 (Miyazya) depois de dar ordens aos meus chefes em cada distrito que eles deveriam desempenhar seus trabalhos diligentemente e que eles deveriam proteger o país meticulosamente.

Imperatriz Taitu

Imperatriz Taitu

Desde que o Imperador Menelik estava gravemente doente, ele não tinha força necessária para realizar nenhum grande trabalho – exceto aparecer diante do exército na praça do Palácio; consequentemente, todo o povo, grande e pequeno da mesma forma, sentiram-se muito aflitos. A respeito de todo o trabalho do governo, era a Imperatriz Taitu que o assumiu como plenipotenciária. Por este motivo, como a paz foi perturbada, muitas pessoas apareceram nos arredores do Palácio para tentar agitar mais o tumulto. Como tudo isso acontecia e enquanto a Imperatriz Taitu, atuando como plenipotenciária, estava tratando de todo o trabalho do governo, homens invejosos começaram a conspirar contra ela para privá-la de seus poderes e retirá-la do Palácio. Quando eles me pediram para entrar em sua conspiração, Eu disse a eles que eu não queria participar dessa intriga; e consequentemente todos os conspiradores passaram a me olhar com inimizade. Quando a Imperatriz Taitu soube que recusei entrar, ela contou ao Imperador e ambos ficaram contentes.

Embora o Imperador estivesse gravemente doente, naquele período sua mente ainda estava equilibrada. Contudo, ele não achou uma ocasião apropriada para advertir e repreender os conspiradores. A respeito de minha recusa para a conspiração, Eu não contei nem para a Imperatriz nem pra ninguém sobre isso, mas aqueles conspiradores revelaram o segredo dizendo: “Dejazmatch Tafari recusou quando falamos a ele: ‘entre na conspiração.’” Quando a Imperatriz repetitivamente me perguntava querendo saber tudo sobre aquilo, Eu fiquei firme em minha declaração de que ninguém havia me pedido para entrar na conspiração. Por isso ela declarou que estava contente por eu não revelar o segredo e disse-me: “Eu sei a verdade. Sua recusa em revelar o segredo é porque você é um homem muito discreto.”

Desde que a Imperatriz Taitu ouviu a informação que foi na Câmara Ministerial do Conselho que esta idéia da conspiração começou, ela anulou-os, fazendo com que a Câmara Ministerial do Conselho fechasse. Além disso, no ano anterior três alemães tinham vindo em nomeações do governo como conselheiros e ocupavam cargos de medicina e educação e onde trabalhavam frequentemente encontravam os Ministros em suas respectivas tarefas. Desde a imperatriz que Taitu teve alguma suspeita que talvez aqueles Alemães possam ter dado a conselho aos Ministros para conspirar contra ela, foi relatado que, enquanto procurava algum pretexto, ela os fez desistirem de seus trabalhos.

Como naquele ano Dejazmatch Abreha, o governador de Endarta na província de Tigre, se rebelou, Ras Abata, enquanto ele ainda era Wagshum, atacou Dej. Abreha em outubro de 1909 (= final de Maskaram 1902) e derrotou-o. Foi informado que outros governantes da província de Tigre estavam olhando em silêncio sem ajudar Dej Abreha ou Ras Abata.

A doença do Imperador Menelik era paralisia, que o impediu de mover todos os seus membros e desempenhar seu trabalho; no dia 27 de outubro de 1909 (= 17 de tegemt 1902) as 3 horas da manha (= 9h da noite) de repente se tornou impossível para ele se mover ou falar; e quando os oficiais e o exército ouviram isso, foi uma grande tristeza nos arredores do Palácio e na capital. Mas depois de alguns dias, a doença parecia diminuir sobre ele, e ele parecia melhorar, mas ninguém pensou que ele ainda tinha muitos anos até que a morte chegasse a ele.

Fonte: Jah-Rastafari.com / Sabedoria Rasta

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